O interesse pelo envelhecimento canino não é fato recente entre cientistas e veterinários. Nas últimas décadas, esse campo passou a atrair cada vez mais atenção, devido às similaridades entre os processos de envelhecimento em cães e humanos.
Pois é: os cães são um excelente modelo para estudar o envelhecimento de forma geral, pois compartilham nossas casas, experimentam fatores de estilo de vida semelhantes aos nossos e são propensos a diversas doenças associadas ao envelhecimento, da mesma forma que os humanos.
Não seria incrível se pudéssemos encontrar formas de poupar os cães deste processo de envelhecimento tão angustiante e lento? Mais do que isso: e se pudéssemos replicar os mesmos achados em humanos?
É o que esses estudos de envelhecimento canino tentam encontrar — formas de tratar o envelhecimento e as doenças relacionadas à idade, aumentando a longevidade, de modo que os benefícios possam englobar cães e também a raça humana.
Alguns estudos já demonstraram fatos relevantes acerca do envelhecimento. Os cães, como os humanos, enfrentam mudanças relacionadas à idade em diversos sistemas fisiológicos. Conforme envelhecem, os cães podem apresentar sinais de mobilidade reduzida, declínio cognitivo, diminuição da função sensorial e maior risco de doenças crônicas, como câncer, doenças cardíacas e artrite. Além disso, as raças de cães variam em sua expectativa de vida, sendo que raças maiores geralmente têm uma vida mais curta do que as raças menores.
Outro achado importante tem relação com os fatores genéticos, que desempenham um papel significativo na determinação da taxa de envelhecimento e longevidade em cães. Algumas raças são mais propensas a doenças específicas relacionadas à idade, enquanto outras mostram longevidade excepcional. Ao estudar a genética de cães com vida longa, os pesquisadores buscam identificar fatores genéticos associados a uma vida útil maior, com melhor saúde.
Também é fundamental destacar o papel da dieta na longevidade dos cães. Estudos têm demonstrado que intervenções dietéticas podem impactar o processo de envelhecimento em cães. Uma nutrição adequada, restrição calórica e suplementação com nutrientes específicos têm sido associadas a uma melhoria na saúde ao longo da vida (o período de vida gasto com boa saúde) e aumento da expectativa de vida em cães.
O exercício melhora a saúde e a qualidade de vida dos seres humanos, e com cachorros não é diferente. A atividade física regular tem sido associada a uma melhora na mobilidade, função cognitiva e saúde geral em cães idosos, por exemplo, o que prova que nunca é tarde demais para se movimentar.
Além disso, o exercício ajuda a manter a massa muscular, a função das articulações e a saúde cardiovascular, o que pode contribuir para uma melhor qualidade de vida à medida que os cães envelhecem.
Semelhante aos humanos, os cães podem passar por uma perda cognitiva enquanto envelhecem. A disfunção cognitiva canina (DCC) é uma condição que se parece muito com a doença de Alzheimer em humanos. A pesquisa nessa área visa compreender melhor a DCC e desenvolver intervenções para apoiar a saúde cognitiva em cães idosos.
Pesquisas sobre o envelhecimento canino muitas vezes incluem estudos comparativos entre cães e humanos. Ao examinar as similaridades e diferenças no envelhecimento entre as duas espécies, os cientistas podem obter informações valiosas sobre os mecanismos biológicos associados ao envelhecimento e identificar intervenções potenciais para melhorar a saúde tanto em humanos quanto em cães.
O argumento de que as pesquisas sobre envelhecimento canino podem fazer com que nossos amigos de quatro patas vivam por mais tempo e com mais qualidade de vida já é suficiente para muitas pessoas. Mas os benefícios em apoiar e fomentar esses estudos vai muito além do puro afeto pelos bichos.
Em primeiro lugar, vale ressaltar que as descobertas podem ser aplicadas à saúde humana. As semelhanças nos processos de envelhecimento entre cães e humanos tornam os cães modelos valiosos para estudar doenças relacionadas à idade e desenvolver tratamentos ou intervenções que possam beneficiar ambas as espécies.
Outro ponto é que, por meio de pesquisas e projetos como o PAMEC, é possível estimular avanços na medicina veterinária, resultando em um melhores cuidados para cães idosos. O entendimento das mudanças relacionadas à idade e fatores de risco de doenças permite que os veterinários ofereçam cuidados e intervenções personalizadas para os pacientes caninos mais velhos.
Por fim, ao identificar os fatores que influenciam a longevidade e a saúde ao longo da vida em cães, podemos desenvolver estratégias para prolongar os anos saudáveis dos cães, o que chamamos de healthspan, e melhorar sua qualidade de vida à medida que envelhecem.
Referência:
Creevy, Kate E et al. “Author Correction: An open science study of ageing in companion dogs.” Nature vol. 608,7924 (2022): E33. doi:10.1038/s41586-022-05179-x
Lifespan Brasil. Projeto avalia fragilidade canina para melhorar cuidado veterinário. Disponível em: https://lifespan.com.br/2023/09/21/novo-projeto-avalia-fragilidade-canina-para-melhorar-cuidados-veterinarios/